Tiwanaku (2ª parte) |
Texto de Dalton Delfini Maziero
(extraído de seu diário de expedição, 1997) |
Na 2ª
parte de seu diário de expedição, o autor continua
sua apresentação sobre o ambiente de Tiwanaku, com observações
feitas in loco. As fascinantes ruínas vizinhas de Pumapunku, a
misteriosa Porta do Sol e a descrição de um dos mais importantes
centros religiosos do mundo pré-colombiano. |
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...As ruínas de Tiwanaku estão, segura-mente,
entre as mais interessantes ruínas das Américas. O visitante
compra um ingresso que dá direito a visitá-la. Incluídos,
estão também o museu e as ruínas de Pumapunku. Milhares
de turistas visitam Tiwanaku, todos os anos. Logo na entrada, a poucos metros, deparei- me com duas curiosas estátuas, entalhadas em um único bloco cada. Lado a lado, como guardiões, pareciam proteger as ruínas. Deste ponto, a visão que se tem já é impressionante. Muralhas enormes e |
um grande morro
artificial projetam-se, não muito distante, convidando-nos a caminhar.
Vi turistas passarem direto da entrada principal até os edifícios
mais importantes. Evite o óbvio. Tiwanaku deve ser conhecida com
“todo o tempo do mundo”. Antes de escalar a pirâmide,
ou fotografar a Porta do Sol, dê uma boa caminhada nas proximidades
da cerca, ou mesmo entre o mato baixo que envolve o complexo. Certamente,
terá surpresas! Pedras entalhadas, pedaços de estátuas,
restos de escavações arqueológicas, portais que se
projetam para |
A disposição dos
edifícios em Tiwanaku é bastante curiosa. Antigamente, grandes
"avenidas" separavam os principais monu-mentos, numa distribuição
harmônica que lembra muito outra ruína americana, a de Teotihuacan,
no México. Espaços abertos entre edifícios, como grandes
praças e pirâmides escalonadas, são caracterís-ticas
desta arquitetura antiga. Curioso notar que Teotihuacan foi "encontrada" pelos astecas, na mesma situação que Tiwanaku pelos incas, ou seja, no mais completo abandono! |
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Enormes centros cerimoniais
completamente desertos, ocultando para a eternidade seus segredos. Existiria
algum paralelismo entre elas? As possibilidades são remotas, embora,
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Escavações arqueológicas
revelaram alguns dos blocos de pedra que ocupavam posições estratégicas na construção. Eram reforçados com grampos feitos de cobre ou bronze. Após a união das pedras, os obreiros entalhavam os grampos na própria rocha, em relevo, no formato de “T” ou “I”, para que depois fossem preen-chidos com metal derretido. Akapana, a exemplo de outras construções em Tiwanaku, jamais foi finalizada. Este fato foi constatado por pesquisas modernas que também revelaram uma esmerada técnica de cons-trução. Em uma delas, o terreno foi deixado exposto para que todos pudessem apreciar parte das plataformas que compõem sua formação. O que se vê, são enormes blocos perfeitamente ajustados, canais de água nivelados e passagens que parecem dar acesso ao interior do edifício! Quem subir ao cume, observará uma enorme cratera, escavada por antigos caçadores de tesouros. Uma triste herança do período colonial. No século XVIII, um espanhol, conhecido como Oyaldeburo, foi um dos responsáveis pela depredação. Em busca de um |
suposto tesouro no interior
da pirâmide, escavou-a jogando seu entulho pela encosta. |
O monólito foi transportado
para a capital por ordem de Posnansky que, desta forma, procurava poupá-lo
de maiores depredações. Na época, foi duramente criticado
por outros estudiosos. Posnansky conseguiu seu intento e salvou o monólito
da barbárie de viajantes que insistiam em deixar seus nomes escritos
na peça. O que ele não imaginava é que, no final do
século XX, outra ameaça atacaria a obra. Desta vez, a poluição
da cidade de La Paz que ameaçava desfigurar e escurecer a imagem!
Uma espécie de fungo, causado por ela mesma, aos poucos, está
descaracterizando a peça. Atualmente, existem monólitos menores
no interior do Templo Semi-Subterrâneo. O principal deles é conhecido como Monólito Barbado ou Homem de Kontiki. Outras curiosas características deste templo são as inúmeras cabeças que ornamentam suas paredes internas. Representam homens e, certamente, foram esculpidas por diferentes artistas. Pelo menos, é o que se pensa mediante os variados estilos. Contudo, seu verdadeiro significado é um mistério. Inicialmente, os |
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arqueólogos acreditaram
tratar-se da representação das diversas culturas regionais
que se uniram aos tiwanacotas. Depois, acharam que poderia ser uma homenagem
aos trabalhadores que auxiliaram na construção da cidade,
representados aqui, por suas etnias. |
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A pedra faz parte de um
segundo muro interno. |
Não podia acreditar
na falta de sensibilidade que alguns seres humanos possuem. |
O friso nunca foi terminado, mas
mostra, claramente, um ser carregando um par de cajados que terminam em
forma de cabeça de condor. É cercado por vários personagens
alados. O cajado representa poder, em quase todas as antigas culturas do
mundo. Muitos pesquisadores identificaram a figura central como sendo a
representação do sol, devido aos "raios" que saem de sua cabeça. Na verdade, não são raios solares. Parecem fazer parte de um penacho ou ornamento usado por alguma divindade importante. Seria Wiracocha? Totalizam 24 "raios", sendo que 17 terminam em esferas. O rosto da imagem central, a única representada em tamanho grande, possui o que parecem ser lágrimas escorrendo de seus olhos! Isso lhe valeu também o título de "deus chorão". Entre tantas teorias e especulações, a mais próxima da realidade foi apresentada por Posnansky. O sábio afirma que o friso representa um calendário agrícola, marcando os dias da semana, meses e, principal-mente, o período do equinócio. Os 24 "raios" que saem da cabeça do personagem principal indicam as |
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24 horas do dia. A imagem principal
identificaria o equinócio, no mês de setembro. As demais
figuras representam os meses, semanas e dias restantes. Ibarra concorda
com a teoria de Posnansky e acrescenta que, além do friso da Porta
do Sol, existiam outros calendários espalhados por Tiwanaku. No
mínimo, dois solares que marcariam o começo do ano, em diferentes
épocas, além de outros dez que estariam representados de
forma dispersa em estátuas e frisos! Todos, porém, apenas
parcialmente, devido à depredação por que passou |
“Dalton Delfini Maziero é historiador, maquetista, expedicionário e idealizador do site Arqueologiamericana. Dedica-se atualmente, à construção de maquetes arqueológicas e instalação de espaços culturais” |