Arqueologia no município de Cajamar:
Etnologia dos povos Pré-coloniais da região Norte da Grande São Paulo

Texto de Pedro Alves Cardoso

Introdução
Durante os séculos XVII e XVIII habitavam a região norte de São Paulo e da grande São Paulo vários povos de origem não Tupi, caso dos Guaianás e outros. Toda a extensão de terra entre Guarulhos e Juqueri de um lado e do Pico do Jaraguá na zona oeste era habitada por esses povos que foram empurrados mais para o norte da planície paulista pelos Tupis – guaranis.
Segundo Astolfo Gomes de Melo Araújo, a denominação de Guaianás ou Guaianazes, tanto a grupos Jê quanto a grupos Tupi, foi fonte de muita confusão a respeito dos habitantes indígenas do planalto paulista (Monteiro1992), e por extensão á própria história dos grupos Kaingang.
Com base na toponímia, nos relatos jesuíticos e de outros cronistas, além de algumas informações de cunho arqueológico, fica patente que os indígenas que dominavam os Campos de Piratininga eram pertencentes a um grupo Tupi, os chamados Tupiniquins (Monteiro 1994). Na mesma região existiam vários outros grupos indígena não Tupi, genericamente denominados Tapuias, dentre eles os Guaianás e Maromimi Prezia (2000).
Se estes eram ou não relacionados aos que conhecemos historicamente como Kaingang, somente pesquisas arqueológicas futuras poderão desvendar, mas os poucos dados existentes sugerem uma grande afinidade em termos de cultura material.
De qualquer modo, não se pode deixar de levar em consideração que grupos não Tupi,
muito provavelmente grupos Jê, estavam convivendo nas proximidades dos Tupiniquins,
as informações de Hans Staden(1974) e Gabriel Soares de Souza (1971) ilustram bem esta afirmação. Autores posteriores tenderam a achar fantasiosa a possibilidade de grupos distintos ocuparem áreas tão próximas Ayrosa (1967) exemplifica bem esta posição, ao comentar a suposição de Teodoro Sampaio de que Gauianá ( não Tupi) teriam sido vencidos pelos Tupiniquim ( os moradores de Piratininga) e se refugiado nas montanhas.


Alguns dados arqueológicos recentes, tanto para o sudoeste de São Paulo (Araujo2001), como para a região da Capital paulista sugerem a proximidade entre sítios Tupiguarani, Aratu e Itararé – Taquara contemporâneos, corroborando a hipótese de grupos humanos radicalmente distintos ocupando áreas contíguas.
Ao mesmo tempo, as dimensões e a quantidade de cerâmica presente tanto nos sítios Itararé Taquara quanto Tupiguarani enfraquecem a hipótese de que grupos Itararé – Taquara fossem

grupos nômades ou de baixa densidade populacional.
Araújo sugere que a situação encontrada na região planáltica de Itapeva, no sudoeste do Estado, é muito semelhante à encontrada nas demais porções da região planáltica de São Paulo, ou seja, que tanto em um lugar como em outro havia grupos Tupiguarani ocupando áreas mais abertas, com relevo mais suave, ladeados de grupos de origem Jê, igualmente numerosos, ocupando as áreas mais acidentadas, sobre as serras.
Esta situação provavelmente é válida para toda a extensão da Serra do Mar, passando pelas regiões de Capão Bonito, Piedade, São Miguel Arcanjo, Ibiúna, Cotia, até chegar em São Paulo, e provavelmente se estendendo para o nordeste. No caso da região de São Paulo, onde temos ainda o encontro da Serra da Mantiqueira com a Serra do Mar , além das serras menores como o Japi e a Cantareira envolvendo as planícies aluviais do Tietê/ Pinheiros, esta dicotomia entre Tupi/Jê e terrenos planos/serras deve ter se dado ainda mais fortemente. Dada a ausência quase total de informações arqueológicas referentes à região da Grande São Paulo, isto é sugerido mais pelas fontes históricas, desde Soares de Souza, ao citar os Guaianases que viviam em covas debaixo do chão, passando pelas várias referências ao fato de os índios Guarús, Guaromimis (que deram origem ao Aldeamento dos Guarulhos e posteriormente á cidade de mesmo nome), Maramomis e outros serem distintos dos Tupiniquins que habitavam as áreas baixas Monteiro (1994).
A presença dos Guarulhos na Serra da Mantiqueira é fortemente sugerida pelos relatos de que um missionário, em 1625, havia descido do sertão grande quantidade de Guarulhos, assentados na paragem chamada Atubaia( Atibaia).
Cajamar foi habitada por um desses povos com certeza além dos Tupiguaranis que pelo jeito chegaram depois e subjugaram o povo (ou povos) que tinham suas aldeias por aqui, porque Monteiro não cita a presença de guaranis embora se saiba que eles povoaram de forma densa a região compreendida entre o Pico do Jaraguá, serra do Japi até Atibaia passando logicamente por todas as áreas estudadas até aqui, e que foram empurrando os povos que habitavam anteriormente as margens do rio Tietê para a região planáltica, ou seja, em direção onde hoje é Cajamar e demais municípios da Grande São Paulo. Ele nos dá uma pista que tal povo poderia ser os Guarulhos dado o relato de que esses habitavam a cidade que hoje é a atual Atibaia, outra indicação seria a referência que ele faz sobre os índios Guarús ou Guaromimis que deram origem a Guarulhos município situado na região norte da grande São Paulo próximo a Mairiporã, Franco da Rocha e conseqüentemente a Cajamar, são algumas hipóteses e possibilidades.
Em relação ao sítio arqueológico do Pico do Jaraguá o autor coloca a possibilidade de este ser associado aos Guarulho, Maromomi, ou mesmo Guaianá, o que reforça a idéia de que até o século XIII um desses povos ocupou a nossa região sem serem perturbados pelos povos Tupiguaranis que chegaram mais tarde o que explica o fato de não se ter informações sobre esses na discussão etnológica e arqueológica destes povos neste estudo sobre a Tradição Itararé Taquara no Estado de São Paulo.
Portanto, falar em história pré - colonial local, é falar sobre este ou estes povos contemporâneos dos Tupis guaranis na região, são povos que viveram aqui há 1.200 anos AP, ou mais, há datações ainda mais antiga chegando ao período do Pleistoceno 10.000
anos AP.

Etnoarqueologia: um olhar para as questões sobre o povoamento Tupi guarani na região

Robson Antonio Rodrigues, e Marisa Coutinho Afonso em um ensaio para a revista Horizontes Antropológicos resumem bem a relação entre arqueologia e Etnologia segundo estes:
“ Os processos de formação do registro arqueológico podem ser identificados através de pesquisas etnoarqueológicas. A Etnoarqueologia utiliza analogias da etnografia, principalmente a partir das observações de aspectos do comportamento de grupos humanos contemporâneos, visando estudar o material arqueológico e sua relação com esse comportamento. A compreensão da ocupação Guarani nos períodos pré-coloniais pelos arqueólogos tem sido alterada pelos dados etnográficos e estudos que tratem das relações dos Guaranis com outros grupos, como os Jês, estão sendo desenvolvidos.” ( Um olhar Etnoarqueológico para a ocupação Guarani no Estado de São Paulo – 2002 , p.155). Por falta de materiais que possam comprovar minha tese a cerca da existência ou não de sítios arqueológicos na região de Cajamar, sejam eles líticos ou cerâmicos, venho utilizando várias informações e contribuições de outras vertentes da historiografia para dar conta desta minha indagação.
Assim, vou me utilizar da etnoarqueologia para desvendar um pouco sobre o passado do povo Tupi guarani que habitou Cajamar durante os séculos XVI em diante, mesmo porque é fato que nossa região era repleta de fazendas, muitas das quais pertencentes a bandeirantes como Fernão Dias e outros.
Desta forma, por falta de provas arqueológicas materiais, provas esta que acredito depender apenas de um projeto de prospecção e escavação na região, e principalmente no local estudado por esta monografia para vir á tona assim como vieram os dos sítios Jaraguá Segundos os autores na atualidade, constata-se um crescimento do interesse em descobrir questões mais amplas quanto à dinâmica e ao funcionamento da cultura, principalmente uma inter-relação entre construção simbólica desta cultura e a materialidade das sociedades, bem como a lógica interna que possibilita a sobrevivência de certos modos culturais. Esse interesse é fruto de novas orientações que estão envolvendo a Arqueologia, principalmente a partir do debate proporcionado pelo pós – processualismo.
Novos problemas arqueológicos, de extrema complexidade, passam a ficar sem explicação, ou pouco explicados, quando tratados por um outro referencial teórico. Esse novo modo de pensar o registro arqueológico passa a se chamar Etnoarqueologia, que, em seu sentido mais amplo, pode ser entendido como uma abordagem que visa proporcionar os meios para que se possa interpretar a estática do registro arqueológico, tendo como referencial a dinâmica do contexto etnográfico.
Para Stiles (1997), a Etnologia é uma subdisciplina da Antropologia e é definida como englobando todos os aspectos teóricos e metodológicos dos dados comparativos etnográficos e arqueológicos incluindo o uso da analogia etnográfica e etnografia arqueológica. Segundo este autor, há cinco principais fontes para a obtenção de informações relevantes arqueologicamente: estudos etnográficos, publicações de viajantes, coleções de cultura material dos museus, estudos experimentais e estudos etnográficos explicitamente arqueológicos. De todas as fontes citadas pelo autor eu faço uso das bibliografias que tratam de questões relacionadas à publicação de viajantes e de bandeirantes, e de estudos etnográficos explicitamente arqueológicos. Apresentado de forma rápida o conceito de etnoarqueologia, falta discutir algumas questões relacionadas ao povoamento Tupi guarani no município de Cajamar e região, levando em consideração alguns tópicos citados acima.
O entendimento da ocupação de áreas no Estado de São Paulo por grupos ceramistas pré-coloniais ainda é bastante incompleto e localizado. Mesmo com as diversas pesquisas já realizadas segundo Robson Antonio Rodrigues. Tal motivo é apontado por Robrahn – Gonzáles (1999), em parte, pelo fato de se contar com grandes extensões territoriais praticamente desconhecidas e por outro lado, mesmo nas regiões em que têm sido realizados estudos prolongados, o número de sítios identificados varia de acordo com a própria natureza, objetivos e alcances das pesquisas desenvolvidas, além de apresentarem consideráveis variações que não foram ainda sistematicamente exploradas.
É o caso de Cajamar, onde todas as condições para a detecção de sítios arqueológicos sejam eles ceramistas ou não têm correlação com tudo o que foi dito até então, tanto do ponto de vista geográfico como de outros, pois os achados do Pico do Jaraguá são em minha opinião apenas a ponta do novelo de outros ainda a serem descobertos na região.
O descaso, e principalmente o discurso da improbabilidade de existirem locais onde possam ser encontrados vestígios arqueológicos na região de Cajamar com esta tese caem por terra pois geograficamente a proximidade com locais de achados é muito forte, pois não se pode esperar que uma rodovia ou qualquer outra obra de grande vulto atravesse o município para se constatar tal fato e a partir daí iniciar uma pesquisa arqueológica como a do rodoanel que passa próximo aliás, bem próximo de Cajamar. Esta variação que ainda não foram explorados como cita Robrahn - Gonzales talvez se encaixe neste que é objeto de estudo, que é justamente a questão da proximidade regional e geográfica de ocorrências de descobertas arqueológicas confirmadas por pesquisas e escavações caso do sítio Jaraguá I.
Com relação ao território ocupado pelos Guaranis Rodrigues & Coutinho (2002) afirma que esta área no século XVI abrangia a região do Chaco até o Atlântico, das capitanias do sul até o Rio da Prata, sendo hoje, no Brasil, constituído pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
As maiores aldeias eram compostas por um número variável de malocas dispostas em torno de um pátio central, ou mesmo ao longo do rio principal, talvez seja este o motivo de esses terem empurrado os Guaianás e Maromimis para longe das margens do Tietê, fazendo com que ocupassem as áreas próximas ao Pico do Jaraguá, possuíam uma população de quinhentos até dois ou três mil índios. Porém, em alguns casos, ocupavam as proximidades dos afluentes, com um número populacional reduzido.
Segundo Prous (1999), todos os indígenas moravam na aglomeração central, a não ser durante breves períodos de pesca ou guerra, durante os quais a população podia se dividir, outra hipótese para a ocupação regional dos Tupis Guaranis poderia ser esta a divisão do grupo por algum deste motivo levando-os a se fixarem ao longo da região entre o Jaraguá e Jundiaí. A distância entre os diversos grupos locais não era uma constante, mas variava em função das condições ecológicas (esgotamento das terras agriculturáveis já que eles plantavam nas proximidades das aldeias, escassez de pesca e de caça) e políticas de cada região (invasões por outros grupos étnicos, disputas por poder no centro da aldeia dentre outros), estes fatores também poderiam ter determinado sua fixação em nossa região, talvez por um processo de expansão do povo Tupi Guarani, que para manter sua subsistência dado as condições ecológicas citado acima eram obrigados a se deslocarem com uma parte do grupo para outras localidades não tão distantes do curso do rio Tietê, se fixando em locais onde poderiam encontrar água com facilidade.
Cada tribo conservava-se dentro dos limites de seu território, no entanto, as aldeias mudavam freqüentemente de lugar transferindo-se para locais vizinhos, muitas vezes a menos de um quilômetro do local anterior. Nesse aspecto, informa Maestri (1994) uma comunidade Tupi – Guarani de três ou quatro centenas de membros necessitava de um espaço econômico de subsistência e de coleta de matérias – primas de aproximadamente 45 Km, então faz sentido refletir sobre a possibilidade de Cajamar ter sido habitada por povos de origem Tupi – Guarani ,já que do local que convenciono a chamar de sítio Gato Preto dista apenas 12Km do sítio Jaraguá I e II, em algumas regiões ricas em recursos naturais, apenas alguns quilômetros separavam uma aldeia da outra.

Em busca de povos Pré - coloniais regionais

Os dados históricos que tenho da região de Cajamar, Franco da Rocha, Caieiras, Francisco Morato, Santana do Parnaíba e Jundiaí, salvo neste caso Jundiaí e Santana do Paranaíba por serem cidades que encontrei com certa facilidade registros históricos que remontam ao período do Brasil colônia séculos XVI em diante, onde encontrei registros das cavas de ouro na região do Pico do Jaraguá (1590), Segundo Elcio Siqueira Campos e Elizete Henrique da Silva, o pico do Jaraguá tornou-se conhecido como o’’Peru do Brasil’’ desde aquela época, e é provável que a lenda tenha contribuído para que a vizinha área do Ajuá acabasse mudando de nome para “Perus” em meados do século XIX. Outra fonte que encontrei em relação à região no período colonial foi à abertura, em meados do século XVII, da via terrestre que se chamaria Estrada São Paulo – Jundiaí que corta as cidades acima citadas menos Santana do Parnaíba.
O surgimento desta estrada está ligado ao fato de que: São Paulo, no século XVII, foi o centro de um enxame de fazendolas de pequena cultura e de pastoreio de pequenos rebanhos... (que) se estendiam por Parnayba, Araçariguama, Apotribú, Caucaia, Virapueiras, Juquery e Atibaia, dentre outras. Este perímetro foi no seiscentismo a linha delimitadora da expansão paulista, não se falando dos pontos excepcionais mais longínquos, atingidos por um ou outro sertanista, que aí se fixava com sua gente, como procederam os Balthazar Fernandes, fundador de Sorocaba, seu irmão Domingos Fernandes fundador de Itu, o Vaz Guedes Cardoso, que fundaram Mogi das Cruzes, as Oliveiras Cardoso que fundaram Jundiaí dentre outros.
Esses foram casos que, escapando á regra geral, se isolaram no sertão formando novos núcleos de população.
Dentre as comunidades citadas acima, duas em particular nos interessam por fazer parte da região a ser estudada e que vai nos ajudar a responder a questão chave deste trabalho de pesquisa, que é a possibilidade de existirem sítios arqueológicos em Cajamar, e região, tentando responder juntamente com as características pré-históricas locais que tipo de habitantes existiam nesta região em um período anterior a colonização Portuguesa.Desta forma, Parnaíba fundada em 1580 por Suzana Diaz, e Jundiaí em 1615 por Rafael de Oliveira e família são de fundamental importância porque é a partir daqui que vou iniciar este trabalho de pesquisa, e também por estar próximo ao bairro de Perus também descrito historicamente por Elcio Siqueira e Elizete Henrique.

A história de Cajamar a partir de Jundiaí, uma regionalidade pré- colonial

Por não dispor de documentação a respeito da história pré - colonial local vou buscar informações tanto em Jundiaí, por proximidade local, quanto na região metropolitana da capital também por proximidade.
Sem contar que a busca por este passado pré Cabralino local, torna esta minha pesquisa ainda mais desafiadora do ponto de vista documental, pois o nó sobre qual ou quais povos habitavam a região antes da chegada da esquadra de Cabral, e mais precisamente Cajamar, justamente por não haver uma preservação da memória histórica anterior a 1915, data em que começa a surgir alguma coisa escrita sobre a historiografia local. Assim esta informação fica para que as instituições de ensino de história regional iniciem uma busca, uma escavação se for o caso deste passado anterior a 1915, deixo aqui esta sugestão antes de me adentrar ao assunto, chamo também a atenção do museu local “Casa da Memória” para elaborar juntamente com a Diretoria de Cultura e de Educação um projeto de resgate arqueológico deste passado trazendo à tona o passado pré- colonial, ou mesmo pré- histórico de Cajamar.
O nó que disse acima diz respeito ao número de povos que podem ter habitado o município antes da chegada dos portugueses, porque durante este trabalho de resgate deste passado, me deparei não só com povos de tradição Tupi Guarani, os maiores povoadores da região, mas também com povos de outro tronco lingüístico, falando etnologicamente sobre a questão dos Jês, Maromimis, Guaianás, Kaingang, e outros. Na verdade toda a historiografia pré- colonial regional tem seu início a partir da célula mater “Santana do Parnaíba”, município histórico da região da grande São Paulo, que foi a capital do império brasileiro por uma noite quando da ocasião da pernoite de Dom Pedro I a caminho da vila de São Paulo de Piratininga, e esta relação não se dá somente com Cajamar, mas sim também com Jundiaí. O município de Cajamar integrava o município de Santana do Parnaíba, se emancipando em fins do século XIX e início do XX.

A história pré – colonial local a partir de Jundiaí

Quando as entradas (expedições com armas, homens e equipamentos) não eram oficiais passavam a chamar-se “bandeiras”.
Havia uma grande discussão em curso no século XVI sobre o aprisionamento de indígenas, e o crime de entradismo passou a ser proibido por pressões da Igreja Católica, que tinha os jesuítas atuando em projetos como as Missões (na fronteira com a Argentina), Considerados subversivos na Europa, os homens que habitavam São Paulo eram rudes e aventureiros, Expedições como de Raposo Tavares duravam anos e atingiam a região do Mato Grosso e até a Amazônia. Nas terras de Santana do Parnaíba esses homens poderosos e violentos tinham até mil escravos de terra.
Por outro lado, os jesuítas buscavam integrar os índios da região na civilização e na vida cristã, em São Paulo o trabalho com os nativos chegou ao ponto de conflito em 1647, quando os moradores ameaçaram fechar o tráfego com o litoral. Mas o problema era antigo: há registros de um ataque bandeirante a Guairá, uma das missões guaranis no sul, por Manoel Preto Jorge – um dos possíveis povoadores de Jundiaí e região.

A incorporação dos Índios da região

Durante muitos anos a historiografia sustentou que os nativos capturados pelas expedições de bandeirantes eram enviados diretamente para os canaviais do Nordeste. Mesmo essa presença teria desaparecido completamente até 1700, quando a chegada de escravos africanos é intensificada no Brasil. Os documentos existentes das fazendas de Jundiaí, entretanto, mostram que havia pelo menos 40 a 50 índios em cada uma delas nos séculos XVI e XVII, aumentando para até 1.000 índios nas fazendas dos bandeirantes mais famosos, em Santana do Parnaíba local das propriedades dos bandeirantes Raposo Tavares e Fernão Dias, entre outros.
Em torno de 20% de toda a mão – de - obra usada nas fazendas da região era indígena, em 1750, quase um século depois do alegado desaparecimento desses nativos da história oficial. Mais de sessenta anos depois da data de fundação de Jundiaí, em 1691, o historiador Affonso de Taunay registra a organização de uma expedição do bandeirante Jorge Correia para combater “os índios do sertão de Jundiaí” a denominação é imprecisa. Na época, o sertão assim conhecido seguia até os limites de Goiás.
A presença e influência cultural dos indígenas no século XVIII e XIX foi pesquisada pelo arqueólogo Walter Fagundes Morales, que escolheu o tema para seu mestrado na Universidade de São Paulo depois de pesquisar o registro de óbitos da paróquia de 1744 a 1800. Ele descobriu que como a escravidão nativa era proibida por lei, os fazendeiros denominavam “administrados” aos índios em suas propriedades, reservando o termo escravo somente para os africanos Maria Ângela Salvatori (1998).

Os caminhos para o interior e a relação com a nossa região

Os bandeirantes que partiam da Vila de São Paulo de Piratininga em direção ao interior do estado o faziam através de caminhos utilizados pelos indígenas que aqui viviam. A importância de se discutir estes caminhos se deve ao fato de que as localidades que iam sendo fundadas ao longo desta entrada rumo ao interior passavam por nossa região, e os mapas que eles faziam dão à idéia da grandiosidade desta região e da quantidade de povos que habitavam nossas paragens durante o século em que tal empreitada começou.
Um desses caminhos além do já citado era o que levava a Minas Gerais.
Desta forma Ana Villa Nueva, relata o caso do morro do Lopo e sua cartografia durante os séculos XVI e XVII. O morro do Lopo aparece em relatos de viajantes e na cartografia desde o século XVI, mas torna-se fundamental no final do século XVII quando as “Bandeiras” paulistas seguem de São Paulo a Minas passando por esta região.
Este morro transformou-se em uma espécie de bússola natural da expedição por um caminho que margeava a zona geológica cristalina do norte com a Serra da Mantiqueira ocidental. O caminho que passava pelo morro do Lopo era conhecido como “Caminho de Atibaia” ou também como “ Caminho que Vae para o Rio das Mortes”
Para quem seguia em direção a Minas, partindo de São Paulo, era necessário atravessar a serra da Mantiqueira através de gargantas, que nada mais eram do que passagens que possibilitavam a travessia, muitas vezes seguindo cursos de rios e vales.
Em relação a esta descrição, a julgar pela sua direção e sentido a Atibaia, margeando rios e vales, a nossa região foi com certeza rota das bandeiras paulistas rumo a Minas e também a Goiás e que depararam pelo caminho com muitas populações indígenas da nossa região, esta zona cristalina do norte pode-se entender, ou talvez seja a região que fica ao norte da vila de São Paulo de Piratininga atual cidade de São Paulo, ou seja, Cajamar, Jundiaí, e outras.
O que nos interessa enquanto pesquisa sobre povos Pré – coloniais que habitavam a nossa região na época do descobrimento até as bandeiras é a relação entre este caminho com marcos geográficos e cartográficos traçados pelos viajantes do século XVI e que mostram a nossa região nos mapas da época, pois isto é importante para delimitarmos as áreas de ocupação indígena na região durante o período.
A cartografia do século XVIII é a mais expressiva na representação dos caminhos do ouro, com marcos geográficos e núcleos urbanos, apesar de ser a 2ª metade do século XVII o período mais importante de expedições paulistas rumo as sertão mineiro, passando constantemente pelo morro do Lopo.
Estes núcleos urbanos eram freguesias, povoados, que os bandeirantes iam fundando ao longo dos caminhos empurrando as populações indígenas locais para longe destas freguesias e para longe do curso de rios, mas a nossa região era e é rica em água, e isto com certeza não era fator de dificuldade para que nossos índios pudessem se estabelecer em outros locais não tão próximos aos rios agora de domínio dos portugueses, mas também não tão longe da região onde habitavam, mas sim o estabelecimento em locais que não oferecessem perigo em relação aos moradores do povoado, evitando assim a sua escravização.

Considerações finais:
Diante de tais evidências históricas aqui discutidas, a possibilidade de se encontrar vestígios da ocupação Tupi - guarani ou mesmo de culturas anteriores a este caso dos Guarulho, Maromomis e outros, ou ainda culturas mais antigas como as Itararé- Taquara na região de Cajamar é uma possibilidade real, pois as fontes escritas apontam para a confirmação da ligação entre a região e os achados do Pico do Jaraguá dois sítios um Lítico e outro cerâmico por ocasião da construção do Rodoanel Mário Covas que corta os bairros do Jaraguá e Perus sendo que este último faz divisa com Cajamar.

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Pedro Alves Cardoso- Estudante de História ( Licenciatura), atualmente participa de Pesquisa arqueológica na Sub Bacia Juqueri/Cantareira, Iniciando trabalho de Prospecção na região de Cajamar – Projeto Arqueológico de Cajamar atividade que faz parte do Programa “ Ocupações Pré Históricas na Sub Bacia Juqueri/Cantareira”.

Contato: cardosoalves2000@yahoo.com.br