Escolha
O interesse pelo Titicaca,
segundo Maziero, veio do fato de conhecer o local e de ter estudado o
Titicaca desde a formação do lago até a época
da conquista espanhola. De acordo com ele, isso o fez compreender não
só o processo geológico como o de desenvolvimento humano.
Maziero identifica o lago
como pólo cultural muito forte, cheio de lendas e mitos. Ele afirmou
que a primeira civilização lá estabelecida, a Viscachan,
remonta 8.500 anos aC. Depois dela vieram grandes civilizações
como Chiripa, Pucara e Tiwanaku. Elas foram fragmentadas
em pequenos grupos que lutaram pela posse da região até
a chegada do Império Inca, seguido pela colonização
espanhola.
Além disso, devido
à água e a posição estratégica, a região
do lago sofreu influências de culturas da cordilheira, litorâneas
(Pacífico) e da floresta.
Todas essas culturas deixaram
marcas, mesmo sendo influenciadas ou soterradas pelas posteriores. E é
por meio de conversas com a população, entrevistas com historiadores,
professores e arqueólogos da região, e acima de tudo, pela
vivência da cultura, que Maziero quer identificar essas marcas.
Viagem
Maziero deverá iniciar
a partir da cidade de Puno, a de maior estrutura nas proximidades do lago.
Se afastará mais de 100 km do lago em dois momentos: a Sul, para
visitar a caverna de Mazocruz, que tem um mural de 26 metros, e
a Norte, para visitar ruínas da cultura Mollo. Os dois lugares
são importantes sítios arqueológicos.
Durante toda a viagem o
pesquisador estabelecerá contato com familiares e amigos, mas em
alguns locais, Maziero ficará incomunicável. Ele não
receberá qualquer tipo de auxílio e terá, como única
companheira, uma mochila de 18 kg com itens essenciais: filmes, duas máquinas
fotográficas, roupa própria para enfrentar a neve nas altas
altitudes, barraca e saco de dormir polares (agüentam baixas temperaturas),
botas, kit de socorros e um fogareiro. A comida deverá ser adquirida
nas regiões por onde ele vai passar.

Ilha de juncos feita artificialmente é exemplo de
engenhosidade de culturas antigas.
Provavelmente, voltando
de viagem, Maziero terá muito o que contar, inclusive sobre a engenhosidade
dessas culturas antigas. Bons exemplos disso ele já dispõe
hoje: há pouco tempo, arqueólogos redescobriram um sistema
de plantio utilizado pelos povos antigos, que foi esquecido e soterrado
com a colonização espanhola. Os Camellones - que
remete às corcovas de camelos - aumenta a produção,
tanto em quantidade quanto em tamanho dos produtos, em até cinco
vezes. Trata-se do aproveitamento de áreas alagadas por meio da
construção de "corcovas" de terra. Pequenos morrinhos
que protegem as plantações das geadas e aproveitam a umidade
natural e a terra fértil desses locais.
Lago Titicaca
Para Maziero, a importância
do Lago Titicaca não pode ser medida facilmente. Pela sua grandiosidade,
ganhou, desde tempos remotos, uma importância vital para os povos
da Cordilheira. Por lá se fixaram grandes impérios, cujas
cidades, já no tempo dos Incas, não passavam de impressionantes
ruínas. O Titicaca também teve povos guerreiros, que continuam
sendo lembrados nas lendas regionais pela sua ferocidade, como os Lupakas
(Homens-Sol) e Pakajes (Homens-Condor).

Rica cultura é desconhecida da maior parte da população
brasileira.
Suas águas geladas
e límpidas guardam até hoje inúmeros mistérios
arqueológicos, que fascinam os pesquisadores há décadas.
Nos Ayllus (comunidades indígenas), ou mesmo nas cidades,
proliferam as lendas sobre templos e ruínas pré-incaicas,
submersas por um grande dilúvio em data remota, e sobre tesouros
Incas atirados nas profundezas do lago no intuito de não caírem
nas mãos dos espanhóis.
Como se não bastasse,
suas ilhas são reconhecidas na mitologia indígena como o
ponto inicial da Gênese incaica, local onde surgiu o primeiro casal
que deu origem ao grande Império Inca. Os indícios arqueológicos
de ruínas como Tiwanaku e Sillustani atestam o alto
grau de civilização de seus habitantes.
Formação
Sonhando ser arqueólogo
desde criança, Maziero diz ter sempre pensado em expedições.
Sua recordação mais remota é a de ter ficado fascinado
pela Antiguidade ao ver um livro sobre o Egito Antigo.
Em 1989, o paulista Dalton
Delfini Maziero, hoje com 30 anos, formou-se em História pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo - PUC, tendo direcionado
seus estudos para as culturas Pré-Colombianas e Período
Colonial Americano.
Desenvolveu, em 1988, um
projeto de pesquisa em Iniciação Científica sobre
o tema "Pirataria em São Paulo - Séc. XVIII".
Em 1989, trabalhou no Departamento de Patrimônio Histórico
da Prefeitura, quando desenvolveu atividades na organização
de Arquivo Iconográfico.
Completou em 1990, o I
Curso Horizonte Geográfico de Arqueologia e desenvolveu iniciação
arqueológica no sítio Calçada do Lorena, na
Serra do Mar. Formou-se em 1992 no VII Curso de Organização
em Arquivos Históricos pelo IEB-USP.
De 1994 a fevereiro de
1997, trabalhou no Arquivo Histórico Wanda Svevo, da Fundação
Bienal de São Paulo, organizando documentação histórica
e biblioteca. Ao conseguir patrocínio do Solar Campestre, da Aliada
- Assessoria de Comunicação e Eventos e da Academia Dandy
Sports, abandonou o emprego e montou o Projeto Vento Sul, cujo primeiro
trabalho é o Projeto Titicaca.
Praticante de camping selvagem
e montanhismo há 16 anos, Dalton tem experiência expedicionária.
Em 1986 viajou ao Peru e Bolívia pela primeira vez, percorrendo
o Altiplano Boliviano e o Deserto de Nazca.
Já em 1988, voltou
ao Peru de intuito de aprofundar seus conhecimentos na cultura incaica.
Em 1990 atravessou o deserto do Atacama pela primeira vez, ao norte do
Chile. Ainda neste ano percorreu o Parque Nacional de Lauca, situado a
5 mil metros de altitude. Em 1991 percorreu o deserto da Patagônia
e Estreito de Magalhães, no extremo sul da América. Praticou
trecking na região de Torres Del Paine. Em 1994 voltou a percorrer
regiões remotas do Deserto do Atacama, no Chile. Como resultado
dessa viagem, realizou, junto com Cláudio Delfini, a exposição
fotográfica Atacama: o silêncio do deserto, que permaneceu
na estação Santa Cecília do Metrô de 19/10
a 20/11 de 1994.
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